terça-feira, 29 de junho de 2010

Sonhar pode ajudar na aprendizagem e melhorar a memória

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Sonhar um pouco sobre as matérias que estão estudando para prestar uma prova importante na escola pode ajudar os estudantes a terem um bom desempenho no teste. Mas se não sonharem nada ou muito sobre o que estão aprendendo nas noites que antecedem o exame, o resultado pode ser exatamente o inverso e provocar o temido “branco” ou “apagão” da memória. É a conclusão a que estão chegando os pesquisadores do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) por meio de experiências inusitadas.

Em 2007, os neurocientistas do Instituto dirigido pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis iniciaram uma pesquisa com 22 apreciadores do popular e controverso videogame Doom, em que o jogador é transformado em um fuzileiro espacial e precisa exterminar criaturas bizarras, como monstros e zumbis. Durante a experiência, os pesquisadores observaram que os jogadores que não sonharam ou sonharam muito com o jogo nas noites que passaram no laboratório do IINN-ELS, ligados a um aparelho de eletroencefalograma, foram mal no jogo. Já as que sonharam um pouco sobre ele apresentaram um desempenho melhor.

– Observamos que houve uma relação direta entre os sonhos e a performance dos jogadores – afirma o neurocientista e chefe de laboratório do IINN-ELS, Sidarta Ribeiro. – À medida que sonhavam com o jogo, eles jogavam melhor. Mas se sonhavam muito com ele e ultrapassavam um determinado limite de sonho jogavam mal – diz.

De acordo com Ribeiro, o estudo, que está quase pronto para publicação, não demonstra categoricamente que o sonho melhora a aprendizagem. Mas sugere que ambos estão fortemente relacionados e ajuda a elucidar o papel desempenhado especificamente pelo sonho no processo de sono-aprendizagem. Até hoje o que se sabia é que o sono pode ajudar na aprendizagem e melhorar a memória, e que a maioria das pessoas sonha durante a fase do sono leve, ou REM, que é a melhor para recordação de memórias e é caracterizada pelo rápido movimento dos olhos.
– A ideia que estamos trabalhando é que o sonho é um processamento da memória – revela. – Se nós prestarmos atenção no nosso dia-a-dia, quando temos um nível de estresse baixo e sonhamos moderadamente, retemos mais memória. Mas se ficamos muito estressados e não sonharmos, o resultado é exatamente o oposto – compara.

Sonhos violentos
O especialista explica que escolheram um jogo tão violento como o Doom para realizar a pesquisa porque os próprios sonhos têm um contexto violento e guardam uma relação antropológica com os nossos ancestrais mais longínquos que, ao acordarem, tinham que matar ou morrer.
– Nós não podíamos pegar uma situação da vida de um sujeito comum de hoje para realizar a pesquisa”, conta Ribeiro. – Tentamos replicar uma situação de risco de predação vivida pelos nossos ancestrais para expor os participantes da pesquisa a uma situação de estresse.

Em outro experimento que será realizado no IINN-ELS, os participantes serão divididos em dois grupos em outro jogo de videogame, em que primeiro representará a caça e o segundo o caçador. Os pesquisadores esperam que haja uma divergência nos sonhos e no desempenho dos participantes de acordo com o papel exercido por eles no jogo. A suposição é que os “predadores” se estressarão menos e, consequentemente, reterão mais memória e jogarão melhor do que os “caçados”.

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