segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Amigos imaginários" auxiliam desenvolvimento social e emocional das crianças, afirmam especialistas

ZERO HORA - MEU FILHO

Você já encontrou uma criança que brinca com alguém que não existe? Já ouviu seu filho, sobrinho ou vizinho contando histórias mirabolantes de um amigo íntimo que ninguém mais enxerga? Muitos pais passam por experiências semelhantes, mas não há motivo para se preocupar: os amigos invisíveis ou imaginários, geralmente, são parte da fantasia de crianças de dois a seis anos, e, segundo especialistas, até ajudam no desenvolvimento social e emocional dos pequenos.

Quando tinha dois anos, Giovana Galvão, hoje com quatro, conheceu Elvis, um amiguinho do qual não se desgrudou durante pelo menos um ano e meio. Compartilhava cada momento da rotina com o companheiro. Ele visitava a casa dos avós, fazia as refeições, dormia e até viajava para o Litoral com ela. A diferença entre Elvis e os demais coleguinhas de Giovana é que o amigo é fruto da imaginação da garotinha, ainda que projetado no boneco Elmo, da série de TV Vila Sésamo. Ela mesma batizou o amiguinho com o nome de Elvis. Segundo a mãe da pequena, Fernanda Galvão, a intensidade da fantasia diminuiu após o nascimento do irmãozinho.

– Ela se empenha em nos ajudar com o irmão, por isso o Elvis tem ficado de lado. Mas, vira e mexe, ela volta a brincar com ele – conta.

De acordo com a psicóloga Janaína Couvaneiro, os amigos imaginários podem surgir de duas formas: como companheiros invisíveis, com os quais apenas as crianças "convivem", ou projetados em objetos, como Elvis, o amigo-boneco de Giovana. Embora ajam como se o amigo imaginário ou invisível realmente existisse, os pequenos, no fundo, entendem que se trata de uma fantasia.

Janaína afirma que a relação, quando surge de forma natural, é saudável e permite que as crianças demonstrem o que estão sentindo em relação à vida real.

– Pode ser um modo positivo e criativo que a criança encontrou para lidar com o seu mundo de sonho e fantasia – explica.

De acordo com a psicóloga, os amigos frutos da imaginação são usados pelos pequenos para administrar sentimentos como a raiva, a inveja e a frustração. Além disso, ter um companheiro inventado é vantajoso para a autonomia da criança.

– Ele está sempre disposto a fazer o que ela quer – acrescenta Janaína.

Dos dois aos quatro anos, segundo a especialista, a criança passa por uma fase de encantamento, propícia a criar novas e surpreendentes situações. É comum que os amigos de mentirinha durem até os seis anos, mas algumas crianças prolongam a fantasia. A psicóloga garante que, a princípio, os pais não devem se preocupar com a duração dessa fase.

– Mas se continuar na chamada segunda infância, após os seis anos, é interessante procurar um especialista – recomenda.

A compreensão dos pais é essencial para que a fantasia das crianças seja benéfica. Segundo a especialista, lutar contra a amizade imaginária e contrariar a brincadeira dos filhos só vai frustrá-los e fazer com que se sintam diferentes e isolados. Embora não participem diretamente da fantasia, os pais podem incentivar, por exemplo, colocando um pratinho de comida ao lado para o amigo imaginário - se o filho pedir. É uma maneira de descobrir, por meio das conversas dos pequenos, alguns dos medos e opiniões que eles não comentam.

Na TV, um orfanato de amigos

A relação entre crianças e amigos imaginários é abordada de forma bem criativa na série animada A Mansão Foster para Amigos Imaginários, produzida e exibida pelo Cartoon Network. Ambientada em um mundo onde basta imaginar um companheiro para que ele se torne real, a trama conta a história das criaturas abandonadas por seus criadores e acolhidas em uma mansão que funciona como uma espécie de orfanato: ali vive todo o tipo de seres entranhos, à espera da adoção de uma criança que esteja solitária, mas que não tenha criatividade para criar seu próprio amigo.

Os protagonistas da história são Mac, um menino tímido de oito anos, e seu amigo imaginário, Bloo, criatura amorfa e azul com personalidade oposta à de seu parceiro humano.

Mac é obrigado a deixar Bloo na mansão, pois sua mãe julga que ele está muito velho para se dedicar a um amigo imaginário. Ainda assim, o garoto continua a visitar Bloo diariamente, pois não está pronto para deixá-lo e partir em busca de colegas "reais".

Na série, recheada de humor, é possível notar como os amigos imaginários nascem das necessidades que as crianças têm, seja por diversão, atenção ou proteção. Cada criatura é moldada de acordo com os diferentes desejos dos pequenos, e é isso que deu ao criador da série, Craig McCracken (o mesmo de As Meninas Superpoderosas), a liberdade para trabalhar com todo o tipo de seres fabulosos.


Agradecimentos: Clínica do Saber e Cartoon Network

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